Há que se começar outra vez a pedir
licença aos ancestrais. Há que se começar outra vez a ouvir os tambores
silenciados. Da nova música eletrônica ao velho som do tambor, decantam-se o
som da memória na palheta dos instrumentos de cordas. O tambor é o elo mais
sagrado da memória negra. Na festa dos tambores silenciosos uma infinidade de
ritmos anuncia um ritual de oferendas aos tambores. Sabemos que quando faltava
o tambor no terreiro, os negros batiam palmas e sincopavam a batida dos pés
como forma de protesto. Essa artimanha de tocar usando o próprio corpo como
instrumento levou os negros a assimilarem, também, a instrumentalização dos
conceitos estéticos da cultura ocidental. Contudo, o povo negro transfigurou os
elementos da musicalidade europeia improvisando, à sua maneira, os traços mais
importantes da memória africana. No continente africano, os tambores podem
representar a fala espiritual dos orixás; no Brasil, modificou-se a escala das
batidas, redimensionou-se o acorde e no fundo da memória afro-ameríndia,
guardou-se tesouro em diálogo com a mãe África ao traduzir referências musicais
que muito dialogam com o maxixe, o samba dos candomblés, xaxado, samba
macumbeiro [umbanda], samba de partido alto, sambas raiados, lundus, merengues,
mazurca, baião, toadas, capoeira, chulas, umbigadas, carnaval, frevo, chorinhos,
modinhas, somando as cordas elétricas o rock às tambores de Crioula e dos
tambores de Minas. Cada batida sinaliza uma expressão, um código secreto. Ao
batermos um tambor com intervalos iguais o ritmo também vem em um tempo
homogêneo. Em uma representação gráfica, poderíamos utilizar a linha ou o
traço: [- /- /- /-/ -/ -/ -/ -]. Por outro lado, se ocorre uma alteração do
ritmo aí o tempo também muda e o traço vem mais heterogêneo: [-/--/ --/ -/ --/
--/-]. Dependendo da linguagem da comunidade, o som do tambor ganha de quatro a
oito diferentes tipos de tons e semitons. Na altura quaternária da batida, o
som ganha outros sentidos no toque duplo em pausa binária de um: baba-baba-baba-baba.
E dependendo da batida forte ou leve, longa ou breve, o baticum poderá
representar também quatro coisas distintas. O famoso tun-tum-tum-tum-tum-tum ou dundundundundun reproduz
a voz de um tambor falante. Há tipos de batida que chegam a ecoar notas
intensas de uma oitava alta ou mais baixa. A batida exercida pelo baticum dos
dois braços exerce uma pressão muito grande sobre o couro do tambor. Há que se
começar a contar a memória da voz oral. Há que se começar a falar de
Griots.
A
prosa impúrpura do Caicó
(Chico
César)
Ah!
Caicó arcaico
Em meu peito catolaico
Tudo é descrença e fé
Ah! Caicó arcaico
Meu cashcouer mallarmaico
Tudo rejeita e quer.
É com, é sem
Milhão e vintém
Todo mundo e ninguém
Pé de xique-xique, pé de flor
Relabucho, velório
Videogame oratório
High-cult simplório
Amor sem fim, desamor.
Sexo no-iê
Oxente, oh! Shit
Cego Aderaldo olhando pra mim
Moonwalkman
Em meu peito catolaico
Tudo é descrença e fé
Ah! Caicó arcaico
Meu cashcouer mallarmaico
Tudo rejeita e quer.
É com, é sem
Milhão e vintém
Todo mundo e ninguém
Pé de xique-xique, pé de flor
Relabucho, velório
Videogame oratório
High-cult simplório
Amor sem fim, desamor.
Sexo no-iê
Oxente, oh! Shit
Cego Aderaldo olhando pra mim
Moonwalkman